COISAS DE CRIANÇA - PARTE I

Quando eu era criança, contava os dias para o período dos cajus, mangas, seriguelas e pitombas; frutos suculentos que eu podia colher nas árvores frutíferas grandes e frondosas que tinham no quintal de minha casa.
Na minha cabeça as frutas mais suculentas eram as colhidas e degustadas no pé. Outro prazer para mim era ficar horas a fio deitada nos galhos grossos da mangueira, estudando ou revendo alguma dúvida que ficara da aula.
No alto dos galhos finos da pitombeira eu via as casas da vizinhança ou mesmo ficava à espera de mãezinha vir para eu descer correndo e encontrá-la no caminho e contar as novidades da tarde. Do meu cajueiro, recordo da queda fenomenal dos 4mt de altura; tudo foi tão rápido que não deu tempo nem de gritar, o prejuízo não foi grande, consegui ainda "de quebra" ficar com o caju vermelho e gostoso na minha mão. 
Era também para os galhos dos meus companheiros que corria, quando eu chorava, porque não queria que ninguém visse minhas lágrimas. Era na sombra dos meus amigos que eu fazia as "comidinhas" e me reunia com as amigas aos domingos. Mãezinha comprava para mim panelas de barro e geralmente por ser eu a anfitriã tinha que oferecer um almoço de qualidade. Por termos galinheiro, domingo era certeza ter galinha caipira e as "tripas da galinha" eram nossas! Logo porque depois do meu almoço, tinha o almoço de mainha... Mas era divertidíssimo, limpar, lavar, escaldar e temperar aquela "iguaria" com as verduras de nossa horta. 
Sempre gostei de ter contato com a natureza. Em época de chuva era só festa: tomar banho de bica e chapinhar na água não era suficiente, depois que passava a enxurrada eu ia fazer bolinhos de areia e assar no forno (também de areia); quanto maior o forno, pior era para tirar o pé que servia de molde. Minha maior raiva era quando vinha os "culumins" e destruíam meu forno, cheio de bolo. Se o moleque era menor que eu, os "cascudos" comiam solto, quando eram maiores eu corria para casa chorando e "fuxicando" para mãezinha ou mamãe.
O inverno também era período das brincadeiras de bila. Adorava o barulho das bilas se chocando, o jogo era feito com dinheiro de carteiras de cigarro, disputadas como troféus ou medalhas; agora se a gente perdia tudo e se sobrasse coragem, valia a pena, apostar com sardinha (meu braço ficava em fogo quando eu perdia), mas quando ganhava, tadinho do perdedor, eu ia à forra.
Naquela época eu lá sabia o que era playstation, vídeo game, PSP, computador... Minhas brincadeiras eram com bonecas de pano (feitas por minha mamãe/"avó"), carrinho de lata com pneu de chinelo, pega-pega, esconde-esconde, bandeirinha, sete pecados, quipa, cirandas... Minha mãe e avó ficavam no terreiro, torcendo tucum, conversando e olhando o que eu estava fazendo. Às 9 da noite era o momento de despedida, entrar, tomar banho (de cuia, porque não havia água encanada na época), rezar e dormir!
Que tempo bom, fecho os olhos e ainda posso ouvir nossos gritos de alegria quando ganhávamos, ainda sinto o sabor daquelas frutas saborosas. De minhas árvores amigas, sobraram os cajueiros, os outros pereceram com o tempo... Da época de criança sobraram as lembranças felizes. Das lembranças ficaram também as testemunhas mudas e cúmplices, que em seus galhos receberam uma criança tímida, inocente e crédula. Hoje não sou criança, a inocência se perdeu nas palavras doces do tempo e a crença do mundo perfeito, foi destruído, devido às atrocidade humanas! 

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