Fosse o tempo visível e palpável, seria apaixonada por ele. O tempo consegue me fascinar por suas nuances e ao longo de minha existência, passou a ser meu amigo. Ele foi responsável pela cura de minhas feridas externas e é ele também que a cada ano mostra-me através do espelho que não sou aquela criança, que descalça corria pela rua, chapinhando água e fazendo casinhas de areia em época de chuva.
Fosse o tempo meu amigo visível teria tanto a indagar. E aqui deitada em minha rede, sendo beijada pelo vento que faz balançar as palhas dos coqueiros, eu consigo perceber que o tempo é negligenciado pela raça humana, já que não são todos que assim como eu, compreendem a magia das coisas.
Foi o tempo que mostrou os enganos que eu acreditava serem corretos, foi o tempo que conseguiu deixar minhas lembranças vivas, dos amigos que se foram, dos amigos que vi dentro de ataúdes, dos amigos que vi partir para outros destinos, dos amigos que percorreram outras estradas em busca de novos horizontes.
Mas o que é o tempo? Um daqui a pouco que não controlo? Uma tempestade de emoções vividas? Uma construção inacabada de minha história? Uma bagagem cheia de quinquilharias e bens preciosos? Um livro de páginas rabiscadas? Um apanhado de nós que desato à medida de minha coragem e força?
Eu e o tempo: um relacionamento complexo. Às vezes acho-o implacável; outras vezes acredito ser misterioso. Mas nada seria sem ele e, percebo enquanto sou inútil para o tempo. Ele é a razão do compreender e eu sou essa, que tenta buscar essa compreensão.
O tempo, um repertório de propósitos e porquês, que representa os desafios que enfrento, dos medos que venço, dos sucessos que alcancei, dos fracassos que me enfraqueceu, das vitórias que conquistei, das dores e sofrimentos que senti e que ainda sentirei.
O tempo. Um relógio que não para. As estações ininterruptas. As percepções diárias. O fluir das atitudes. A essência da vida!
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