Um menino do interior que um dia sonhava em ser dentista, que sonhava em trabalhar num escritório cheio de computadores e que tinha sonhos frequentes visitando os Estados Unidos, mesmo com poucas imagens de lá.
No inÃcio tÃnhamos pouca coisa: uma casa de taipa, sala, quarto e cozinha; banheiro era de palha do lado de fora. Sala e cozinha com piso em cimento, o quarto ainda era de barro. Uma cama, uma rede. Fogão a lenha, água de poço, pote de barro e copo (aquele de alumÃnio).
Sobre os estudos do menino do interior: os estudos sempre me dediquei, sozinho. O primeiro motivo por ser filho único e outro motivo; porque meus pais me ajudavam com o que podiam (material escolar); meu pai não concluiu a 4ª série do ensino fundamental (mas sabe ler). Minha mãe não conseguiu estudar, na época dela a escola era muito distante e meu avô a colocava para trabalhar na roça (ela não sabe ler)!! Confesso que meu maior sonho é ver minha mãe lendo.
Voltando a minha narração: sempre me dediquei aos estudos. Abri mão de brincadeiras, farra e curtição. Sempre fui bem visto pelos professores e meus vizinhos, sempre comentavam que eu seria alguém na vida. Ser alguém na vida é ter sucesso, ter um bom trabalho e conseguir uma condição boa de vida.
Levando em consideração todo o apoio e reconhecimento que sempre tive e não esquecendo à s vezes, que na minha casa o almoço era feijão e farinha, algumas vezes com ovo, outras sem. Quando melhorava tÃnhamos mortadela, carne enlatada e sardinha (isso me fez sempre lutar por dias melhores).
Estudei na escola Deputado Murilo Rocha Aguiar até a 4ª série no km 5, por não ter 5ª série, fui estudar na Escola Carlos Trévia (Flamenga) até a 8ª série e de lá fui para o Colégio Estadual Padre Ancheita (CEPI) para fazer o Ensino Médio. E foi exatamente como aluno da instituição, onde tive minha primeira oportunidade de emprego. Lembro, como se fosse hoje o professor/diretor João chegando de carro na porta da minha casa e eu sentado na rede. O professor logo foi falando o motivo da sua visita, que era uma entrevista de emprego, no Hipermercado Rainha.
Nunca tinha feito nada do tipo; mas, "eu menino de interior", pouco ousado, fui. Dei sorte, fui contratado para estagiar como empacotador. Sou grato até hoje pela oportunidade no Rainha, local que tenho grandes amizades e que me deu oportunidade de crescimento e que contribuiu muito para que eu pudesse chegar mais longe.
Voltando aos estudos, pedi transferência para o então Liceu de Camocim, concluindo lá meu ensino médio. Conheci muitos amigos, dos quais os melhores, tenho até hoje. Foi nessa oportunidade que fiquei sabendo do concurso para Aprendiz de Marinheiro. Meus amigos fizeram a inscrição, eu também. Eles fizeram a prova e passaram, eu desisti de ir fazer a prova na última semana. No ano seguinte, não quis ficar para trás e fui pra cima. Trabalhando e estudando, indo para o trabalho de bicicleta logo após chegar do colégio. Saia da colégio as 11hs, chegava em casa por volta de meio dia e as 13 horas saia pedalando por cerca de 7km para chegar no trabalho as 14h. Saia do trabalho por volta de 21 horas tendo que pedalar mais 7km na volta (na escuridão, pois parte da estrada não tinha luz elétrica). No entanto, isso não me causava revolta, ao contrário, eu fazia com satisfação; porque mesmo sendo dias sofridos, foram ao mesmo tempo, dias de aprendizagem e de alegria.
Foi chegado o dia da prova. Lá vai o "menino do interior" fazer a prova em Fortaleza, na topic do Fábio. Dormimos na casa que ele nos disponibilizou. Dormi numa rede pequena, frio de doer os ossos. Acordamos cedo para ir para o local de prova. Era chegada a hora. Passado esse momento, o próximo era o resultado. Sem preocupações, esperei na certeza da aprovação, pois algo me dizia que tinha dado tudo certo.
Aprovado! Aproximava-se o momento de ir para a escola de aprendizes, gastamos as economias comprando material e passagem.
Chegou a hora mais difÃcil, deixar minha casa, meus pais e tudo que tinha para trás. Fui! Com muito choro, mas fui! Era meu destino. Passei um ano na escola de aprendizes marinheiros do Ceará, ano corrido, sofrido, muito estudo, ralação e aprendizado. Passado o ano fui transferido para Manaus. Fiquei por quase dois ano lá e logo após fui transferido para o Rio de Janeiro, "o menino do interior" já estava em uma das maiores capitais do paÃs. E assim foi. Mudanças, transferências, adaptações e muitas viagens. Saudades era o que mais batia no peito. Coração sempre apertado e contando os dias para as Férias. As tão sonhadas férias, onde iria para a casa de meus pais, o melhor lugar do mundo. Onde eu iria para a casa dos meus Heróis, os meus amados pais.
Passados 9 anos, hoje sou Sargento da Marinha do Brasil. É o limite? Nunca será, ainda tenho muito pela frente. Que venham novos desafios. Agradeço a todos que contribuÃram de alguma forma pra que eu chegasse até aqui. O sonho apenas começou. O tempo urge e tenho pressa, vou para a próxima vitória. Ela está mais perto do que nunca! O menino do interior tem ainda muitos sonhos para realizar!!!
Testemunho e texto do menino do interior: RAILTON XAVIER!
POSTAGEM AUTORIZADA PELO LINDO RAILTON...
Realmente este menino é diferenciado de muitos outros que já conheci, muito educado, respeitador, humilde, sempre de bem com a vida e sempre com esse sorriso lindo no rosto. Desejo a vc Railton muito sucesso, saúde, vida longa e que Deus seja o escritor se sua historia hj e sempre. Um forte abraço meu querido!!!
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