Hoje amanheceu aberta a gaveta de minhas recordações. Ao fechar os olhos, pareço ter novamente 7 anos, quando aos sábados, acordava às 5:00h da manhã para caminhando com minha avó, adentrar a casinha aconchegante de D. Pastora e Sr. Vicente, situada na Flamenga dos Regino.
Serelepe, corria de um lado ao outro, subia nas árvores, comia as frutas no pé (as frutas que ficavam no fim dos galhos, para mim eram as mais saborosas), pulava porteiras para brincar com os bezerros e vacas.
D. Pastora parecia uma formiguinha, não parava um instante. Fazia café, colocava comida para os bichos, corria para fazer almoço e não nos deixava ajudar em nada. No quintal os patos, galinhas, pintos, perus e capotes, tocavam uma sinfonia só deles, numa mistura de sons, maravilhosa! Como me divertia com os “tô fraco, tô fraco, tô fraco dos capotes, os glu, glu, glus dos perus, os piu, piu, piu dos pintinhos...
Ao fim da tarde, começávamos a caminhada de volta a nossa casa. Mas, se vocês pensam que a caminhada era curta, se enganam (andávamos cerca de 5km). As aventuras eram as melhores possíveis, eu não andava, simplesmente corria pelas veredas olhando a fauna e flora que surgia à minha frente. Lembro uma vez que tinha um tronco enorme e grosso atravessado na vereda (no inverno) e pulei por cima; nisso ouço o grito de minha avó. Adivinham o que era? Uma cobra... Verdade, tinha uma cobra enorme atravessada na vereda, só não me perguntem de que lado era o rabo ou a cabeça, porque não voltei para dá uma segunda espiada.
Quando surgia algo diferente, parava, esperava com toda paciência do mundo por minha avó, para ela me explicar em detalhes que bichinho ou que planta eram aqueles, tão bonitinhos. Chegava em casa, cansada, mas feliz!
Na época não tínhamos televisão e a minha diversão depois de correr de pega-pega, esconde-esconde e bandeirinha, era ouvir as histórias que minha avó contava, recebendo cafuné na cabeça e olhando o fogo da lamparina que ficava em cima da parede. Quando acordava, milagrosamente estava na minha rede, adivinha quem me carregava até lá? Mamãe ou mãezinha, claro!
O domingo era dia de piquenique no quintal, pegava as bonecas de pano e ia brincar de casinha com minhas amigas. Frutas tinham demais: manga, seriguela, goiaba, caju, pitomba e na grande maioria, quem subia nas árvores, sempre era eu... Era uma missão prazerosa, confesso a vocês! E vale ressaltar que nunca quebrei um único osso, nessas minhas peripécias!
Da gaveta de minhas lembranças, quero que D.Pastora e Sr. Vicente estejam num lugar tão alegre, quanto à alegria que eles me ofereciam, quando criança. Não estão neste plano terreno, mas guardo-os na gaveta de minhas recordações, como em meu coração. Quão feliz eu sou em ter tido-os em minha vida. Deus os abençoe!
Muito bom, espontâneo e profundo, me aflourou também algumas recordações, que por sinal são um pouco parecidas.
ResponderExcluirAbraços
Bom se o texto fosse musicado... uma boa trilha seria:
ResponderExcluirVIDA BOA
Victor e Leo
Moro num lugar
Numa casinha inocente do sertão
De fogo baixo aceso no fogão, fogão à lenha iá iá
Tenho tudo aqui
Umas vaquinha leiteira, um burro bão
Uma baixada ribeira, um violão... e umas galinha iá iá
Tenho no quintal... uns pé de fruta e de flor
E no meu peito por amor, plantei alguém (plantei alguém)
Que vida boa ô ô ô
Que vida boa
Sapo caiu na lagoa, sou eu no caminho do meu sertão
Vez e outra vou
Na venda do vilarejo pra comprar
Sal grosso, cravo e outras coisa que fartá,marvada pinga iá iaá
Pego o meu burrão
Faço na estrada a poeira levantar
Qualquer tristeza que for não vai passar do mata-burro iá iá
Galopando vou
Depois da curva tem alguém
Que chamo sempre de meu bem, a me esperar(a me esperar)